E agora?

A comentadíssima PEC 241 (ou 55), apelidada por alguns como a PEC do mal e celebrada por outros como um dos pilares para a modernização econômica do Brasil, foi aprovada pelo Congresso Nacional e começa a valer a partir do próximo ano. O que será de nós funcionários públicos?

Para começar, é preciso apertar os cintos quanto ao orçamento doméstico, pois a previsão é de que, durante os próximos 20 anos, os aumentos de gastos nos três poderes estarão limitados à inflação e, com isso, para que haja qualquer recomposição salarial, será preciso cortar gastos em outros setores, o que não é uma tarefa simples sem que com isso os serviços sejam prejudicados.

O que fazer então, lamentar- se como a hiena do saudoso desenho animado de Hanna & Barbera, estudar para outro concurso, buscar outra fonte de renda, como escrever blogs, para aumentar o orçamento, ou partir para o quebra-tudo ao estilo black bloc?

Bem, a área de concursos público também será severamente afetada pela PEC, ganhar dinheiro com blog é para poucos, lamentar-se não paga as contas e quebrar tudo dá cadeia.

Uma imposição a limites de gastos realmente não é algo estimulante, todos nós temos nossos sonhos de consumos, nossos objetivos quanto à educação pessoal e da família, precisamos de uma reserva para não passar necessidade na velhice e temos gastos com saúde que nem sempre avisam a hora em que vão chegar.

Uma coisa, porém, é preciso lembrar, que nem sempre reajustes de salários significam aumento do poder de compra, pois na maior parte não passam de uma ilusão monetária que reflete em alguns reais a mais em nosso contracheque, mas que pouco alteram nosso carrinho de compras.

Independente da ideologia, o certo é que qualquer aumento de salário do setor público sem contrapartida de aumento de produção no setor privado ou da redução de custos com outros insumos no próprio setor público, resulta em aumento de impostos ou da inflação, ou seja, se de um lado o salário nominal aumenta, o poder de compra do outro lado é corroído.

Nessa conjuntura tão grave, contudo, ainda temos um sindicalismo retrógrado, cujas ideias e métodos parecem não ter saído do século XIX, e que insiste em manter-se desatualizado.

Infelizmente, os servidores do Judiciário Federal amargaram três anos de congelamento salarial e continua perdendo da inflação por confiar em um sindicato que, como os acontecimentos do ano passado mostraram, estava mais interessado em preservar o partido que estava no governo que o destino da categoria.

Outras categorias profissionais do serviço público têm amargado perdas ainda maiores, sem contar a situação lastimável de muitos servidores estaduais que estão com salários atrasados.

Os anos de governo do PT só confirmaram a lição do economista John Kenneth Galbraith de que o discurso da esquerda e da direita podem ser diferentes, mas na hora de governarem, as ações convergem.

Será que de volta à oposição poderemos esperar uma nova conduta do sindicato?

Possivelmente teremos uma postura mais aguerrida, tal como nos tempos em que o PT era oposição, mas será que isso funcionará?

Precisamos pensar que os tempos não são os mesmos do Governo FHC, pois hoje, para o bem ou para o mal, existe uma capenga regulamentação do direito de greve impingida pelo STF, além disso, o tele trabalho evolui como uma tendência em órgãos como os do Judiciário Federal, e como fazer piquetes quando os funcionários estão em casa e não no Fórum?

Enquanto o sindicalismo mantiver a mentalidade de que a greve é apenas um instrumento de luta de classes, não se importando com o que a sociedade pensa a respeito de nossos vencimentos e sem um discurso coerente para convencê-la do contrário, a nossa situação salarial tende em muito a se deteriorar.

De alguma forma, já é tempo de se buscar alternativas aos movimentos grevistas, que tantos incômodos causam à população e denigrem a imagem dos servidores públicos como um todo.

E se há algo em que o servidor público deve investir é em sua própria imagem, e para isso é preciso não apenas produzir, mas mostrar o que se produz, pois de nada adianta bater metas de produtividade sem que a população se dê conta do que produzimos. Afinal, é a população que paga os nossos salários.


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